foto, 2017
josé
venho de país nenhum
no sudário da saliva
e como tronco enlouquecido
sou o meu próprio labirinto
e faço contorcionismo
como banal artista de circo
gosto dos circos
não deste de génios falidos
mas dos outros
de palhaços pobres
que suam a cada piada que dizem
e abrem os braços
e peidam-se e dão pulos
e são saltimbancos do riso
gosto dos circos
não deste de artistas sublimes
com dentaduras postiças
que se elogiam mutuamente
e dançam a valsa da solidão
gosto dos circos
onde sou o palhaço sério
de quem ninguém gosta
e que tira da algibeira
palavras ocas
navalhas rombas
e nada espera
nem aplausos
nem sequer pateadas
abomino quando me penso
vomito quando escrevo
o resto é eu a ser nada
nem artista, nem poeta, nem fotógrafo
só sou real quando me coço
e levo uma grande coça
na taberna aonde vou
bebo toda a miséria que há em mim
e se em tempos fui trapezista
hoje olho para o chão
como quem procura o céu nos pés
gosto das tabernas
do Joaquim que pede um copo
diz uma laracha
e dispara para todos
numa guerra que é só dele
e berra que o mundo é um circo
e tudo está contra ele
aqui já não sou eu a ser eu
que se fodam tudo e todos
como diz o Joaquim
à terceira rodada de arrotos
e cuspidelas no chão
entre tabernas e museus
o mundo há-de encontrar o seu rumo
e mais igrejas e parlamentos
edifícios que acolhem almas e lamentos
onde senhores de colarinho
engomam o mundo
e nos dizem qual é o caminho
irra aleluia
o meu par na dança
há-de chegar
como D.Sebastião
numa manhã sinistra de nevoeiro
a não ser que ande perdido
e de mim se tenha esquecido
mas somos todos muito sábios muito cultos
esfaqueamos com palavras belas
o mundo a realidade
gostamos do matraquear das metralhadoras
lá ao longe e dançamos a jiga
em noites de folia
porque amanhã é um outro dia
e este tem que ser vivido
em cabarets de luxo
até que os néons se apaguem
venho de país nenhum
nada me perguntem
porque não falo nenhuma língua
nem tenho pátria nem deus
cuspo em mim mesmo
e sei que um dia
os rios correrão ao contrário
e trarão o mar à nascente
e eu foz e nascente
serei um mar em contracorrente
2018, josé
música
Faust / Nurse With Wound - Lass Mich
https://youtu.be/EzROtw-awiw
josé
venho de país nenhum
no sudário da saliva
e como tronco enlouquecido
sou o meu próprio labirinto
e faço contorcionismo
como banal artista de circo
gosto dos circos
não deste de génios falidos
mas dos outros
de palhaços pobres
que suam a cada piada que dizem
e abrem os braços
e peidam-se e dão pulos
e são saltimbancos do riso
gosto dos circos
não deste de artistas sublimes
com dentaduras postiças
que se elogiam mutuamente
e dançam a valsa da solidão
gosto dos circos
onde sou o palhaço sério
de quem ninguém gosta
e que tira da algibeira
palavras ocas
navalhas rombas
e nada espera
nem aplausos
nem sequer pateadas
abomino quando me penso
vomito quando escrevo
o resto é eu a ser nada
nem artista, nem poeta, nem fotógrafo
só sou real quando me coço
e levo uma grande coça
na taberna aonde vou
bebo toda a miséria que há em mim
e se em tempos fui trapezista
hoje olho para o chão
como quem procura o céu nos pés
gosto das tabernas
do Joaquim que pede um copo
diz uma laracha
e dispara para todos
numa guerra que é só dele
e berra que o mundo é um circo
e tudo está contra ele
aqui já não sou eu a ser eu
que se fodam tudo e todos
como diz o Joaquim
à terceira rodada de arrotos
e cuspidelas no chão
entre tabernas e museus
o mundo há-de encontrar o seu rumo
e mais igrejas e parlamentos
edifícios que acolhem almas e lamentos
onde senhores de colarinho
engomam o mundo
e nos dizem qual é o caminho
irra aleluia
o meu par na dança
há-de chegar
como D.Sebastião
numa manhã sinistra de nevoeiro
a não ser que ande perdido
e de mim se tenha esquecido
mas somos todos muito sábios muito cultos
esfaqueamos com palavras belas
o mundo a realidade
gostamos do matraquear das metralhadoras
lá ao longe e dançamos a jiga
em noites de folia
porque amanhã é um outro dia
e este tem que ser vivido
em cabarets de luxo
até que os néons se apaguem
venho de país nenhum
nada me perguntem
porque não falo nenhuma língua
nem tenho pátria nem deus
cuspo em mim mesmo
e sei que um dia
os rios correrão ao contrário
e trarão o mar à nascente
e eu foz e nascente
serei um mar em contracorrente
2018, josé
música
Faust / Nurse With Wound - Lass Mich
https://youtu.be/EzROtw-awiw
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