sábado, 27 de outubro de 2018

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a iluminura breve dos objectos
2017, j


apocalipse au ralenti

como invocar
nestes dias outras revelações
quando passos mortais são dados?
como dizer em palavras iluminadas
os sombrios gestos
dos que procuram Ares como deus?
como dizer a memória silenciosa
de todas as vítimas passadas futuras?

só posso escutar as vozes
as que vêm das vidas estranguladas
das que já sabem o destino em cada momento
das que vêem o futuro
como um animal ensanguentado
esquartejado na demência da guerra-

já não estão despertos
os que acordavam um mundo melhor
os que cantavam a lucidez do olhar

vivemos num labirinto fatal
sem fio salvador
e deixamos às glândulas
da euforia e do consumo
a tarefa suave da anestesia-

como invocar o mundo sem a morte
como dizer outra vez
vivo nesta casa
e os meus olhos
conhecem o esplendor dos dias
e repetir com palavras simples
a justiça profunda da paz?

Onde estavas
quando chamei por ti
irmão calado
que fechas as portas todas as noites?
Onde moras
nas noites silenciosas da vida?

Também eu quero celebrar o frenesim da vida
mas jamais o festim da morte-
deste me afasto
até que a vida engasgada
por fim me engula
2017, j

música
Yo-Yo Ma, cello; Japanese Melodies
Pro Musica Nipponia: Michio Mamiya, condutor
https://youtu.be/rPC6SZeYT_s

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