segunda-feira, 19 de novembro de 2018

foto
2018, josé

entre a mudez fria da pedra
e a nudez do corpo
o tempo é um abrigo em chamas
no fundo de um mar morto

entre as linhas das costas
e o silêncio dos membros decepados
sou eu próprio que me vejo decapitado
no furor último de uma adaga

saberão agora
aqueles que partiram em viagens
que há mares interiores
que há maresias e poeiras
que há incêndios e pudores
que há tudo isto
entre a terra e o mar alto
e que o corpo estátua quebrada
navega na sua própria dor
sem já saber de nada?

estranha
é a pujante lucidez dos músculos
a precisão minuciosa do cinzel

o que sentiu o escultor nas suas mãos
no laborioso movimento do martelo?
de onde veio este olhar
este corpo pleno
num instante parado
e logo pelo tempo destroçado?

o que vive calado no mármore
que o sangue não sinta?
2018, José

música
Richard Skelton (Noon Hill Wood)
https://youtu.be/6NTvcfkPq4Y
Foto

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