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série ruínas
2016, josé

das ruínas
sei a miragem do passado
e como os desertos
crescem e queimam os pulmões

é nas casas abandonadas
que reconheço os templos longínquos
onde deuses feridos
invejavam os homens-

dizem que zeus
incapaz de perceber o mundo
confiou ao raio
o saber da destruição final

vejo daqui
entre as ruínas do passado
e as do presente
como zeus confundido
pela nuvem de juno
se tornou ele próprio
esquecimento e delírio
no fugaz desejo
de querer na perfeição do mármore
a eternidade luminosa dos que dormem-

são os deuses enigmas
que povoam o mundo-
voos e quedas
que nos deixam à mercê do tempo
e das casas dores absolutas
de estranhas ruínas-

entro no espelho do que digo
e invoco a miséria das paredes-
quem viveu aqui
ainda procura no meu sangue
um último alento

direi por eles
esta é a casa
onde víamos os deuses
há muito mortos
quando íamos à janela
nos dias silentes
de amarmos o vento
de encantarmos o mar
de termos nas mãos
a força cantada do coração
2016/18 Cabo Sounion, josé

música
Gustav Mahler - Adagietto, piano transcription | Alexandre Tharaud
https://youtu.be/rxFEoiUv63k