quarta-feira, 24 de outubro de 2018

foto
série os meus dias e noites
josé, 2018

aos meus amigos eternos de juventude

eram as noites
lençóis de luz
na festiva quilha dos barcos:
só tínhamos destino
para sermos deuses
e mãos vorazes
na fogueira encadeante
das palavras e dos risos:

tínhamos a inteligência
dos que respiram e mais nada.

Assombrados vínhamos às ruas
e na sonâmbula exaltação das cabeças
outro fogo outro mundo nos acontecia
que nos traz agora à beira dos rios
onde esperamos atentos
as pátrias fechadas das mulheres dos filhos-

Mas repousamos e somos fortes
no solo selvagem do silêncio:
tudo o mais é-nos para sempre invisível
e se a vida vem ou vai
ninguém o saberá
nem verdadeiramente importa-

Sei agora nos vossos nomes
a profundidade infinita do meu
e danço como a terra
ligeiramente inclinado
mais ou menos a 23º do que fui

Dizem que somos restos do que fomos
e que os rios sempre chegam a algum lado
a qualquer lugar escuro onde desaparecem
mas é assim que entro
nos vossos olhos
loucos como os meus
e me desforro das derrotas
e grito com pulmões a arder
que voo até ao infinito
e que nas minhas asas de cera
caírei a pique para sempre nos vossos braços
2018, josé

música
Illuha — Requiem For Relative Hyperbolas Of Amplified And Decaying Waveforms
https://youtu.be/8eEr1hCNa2U

Foto

Sem comentários:

Enviar um comentário