quarta-feira, 24 de outubro de 2018

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josé, 2018

Era Novembro
e o tortuoso reflexo da luz
nas chávenas molhadas da emoção-

estavas encostada ao lava-louça
vagamente
assombrada

cada mão abria o pesadelo
dos gritos absolutos
do robe encrespado
essa tontura que deus nenhum abençoa-

o relógio marcava
todas as idades do mundo
e tu via-lo
minuto a minuto
na eternidade desaparecer-

lá em baixo
na longa arcada da marquise
havia roupa dependurada
confidência de uma outra vida
de sonhos triviais-

querias
sarar a ferida
a partida inevitável
o cintilante marulhar das lágrimas
mas tudo rufava violentamente
cabeça veias pulsos e as crianças
íngreme futuro
de te seres sempre
ajoelhada
decepada ilusão-

Ao que chegam
os que sofrem?
Ao que vão
os que ardem?
Ao que descem
os que se calam?

tudo o que vive
ensina o entorpecido correr da água
a invulgar desolação dos salgueiros
a derrota íntima das nuvens
as dobras sombrias do corpo
que reclama
e ainda ama
a sua própria destruição.

Era Novembro
era a tulipa gelada da mudança
onde tudo se começa a esquecer
e na carrancuda memória dos objectos
lavaste a última chávena
de uma noite esquecida-

Era Novembro
nas tuas mãos de adeus e silêncio
2018, josé, lx

música
FareWell Poetry - Penelope On The Boredom Bridge (2012​-​01​-​25)
https://youtu.be/jxKbFTO6zok
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