sábado, 13 de outubro de 2018

foto
2018, j

Entregues ao malabarismo do eu, a esse jogo infantil de ser alguém, de se fingir alguém, a civilização actual empurra-nos para o recreio, para um estado de espírito infante, de quem não fala, mas diz tudo, estado perene de brincadeiras suaves e fantasticamente sadias, numa lógica de uma disneylândia universal.
Há como que uma estetização da existência, a pose da postura e da impostura, do fotograma, nessa nova corporalidade e nesses novos sentidos que são a imagem.
No fundo, e como consequência extrema, a civilização actual é puramente reprodução técnica, um imenso écrã por onde todos perpassamos, numa caligrafia nervosa e apressada. No limite e metaforicamente, podemos dizer que o corpo se desidratou, se descorporalizou como se tudo fosse bidimensional.
O mais estranho é que esta visão liofilizada é acompanhada por uma hiperestesia, uma sensibilidade permanente, em que toda a realidade se reduz a uma Macro-Sensação, a uma sensação total, em que tudo se configura como um Hiper-Instante, no qual tudo acede a tudo.
Na realidade, só no caos esse hiper-instante poderia acontecer e por isso o sentir actual é caótico, deriva permanente, indefinível e ilimitada. A civilização actual é um jogo com o caos, numa aposta de tudo ou nada e num permanente bluff de quem ao apostar o que não tem, se arrisca a si mesmo.
José, 2018

música
Yoshihisa Taïra (平義久) … Pénombres III
https://youtu.be/0P-ekNvggiw
Foto

Sem comentários:

Enviar um comentário