quarta-feira, 10 de outubro de 2018

foto
2016, josé

recolhe
a fosfórica luz
do que existe
parado no tempo

ainda assim
tão obscuro
como alcatrão nas mãos

não são as casas
enigmas profundos
cavados na breve loucura
dos que dormem
esquecidos no tempo?

não são as casas
a estranha almofada
de uma cama enregelada?

já nada sei
dos rios que me levam aqui
da inundada luz do inverno

talvez haja agora um castelo
no granito duro do tempo
talvez eu suba outra vez
os degraus de madeira
e diga em palavras ininteligíveis
que trago nas mãos
cinzas ainda quentes
e nos olhos o voo desvairado
do pássaro que devorou o meu corpo

escrevo palavras
como quem assassina os dedos
com que as escreve

digam o que disserem
vivo desta sede
de ser deserto
de abrir nas rosas
outras veias

tudo o resto
é o repentino aguaceiro
do silêncio que conheci
na manhã dos teus lábios
2018, josé


música
H. TULVE - MÄENA VAIKIN MA PALJUST [für Orchester, 2013]
https://youtu.be/XhlykX4qVqk

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