sábado, 27 de outubro de 2018

Foto
2016, josé


Este poema começou a ser escrito, num final de tarde, à beira desta fonte, no Wakhan Valley, no lado Tajique, depois de poucos dias passados no lado Afegão.

Poema
também há pássaros no Afeganistão

também há fontes no Afeganistão
fontes de vidas sedentas
onde pássaros e pessoas se sentam
no entardecer luminoso do verão

também há água límpida no Afeganistão
que jorra nas manhãs
e nas veias dos que morrem
na tarde violenta da guerra

também há pássaros no Afeganistão
que voam por entre caças jactos
e outros objectos de estranhas plumagens
e que no brilho das suas fuselagens
um olhar de morte escondem

também há pessoas no Afeganistão
que dormem em casas de adobe
e na frescura interior dos seus pensamentos
desejam voar como pássaros
e em fontes de água cristalina poisar

também há pessoas no Afeganistão
que numa fonte límpida do tempo
desejam beber a água da vida
e comer o pão quente mondado da seara

também há pássaros no Afeganistão
que no canto da água a correr
escutam o íntimo silêncio
dos que sem qualquer razão irão morrer
2016/2018

música
BADAKHSHAN.PAMIR ZEBA
https://youtu.be/1JrMADqUni8
Foto

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