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2015, josé
eu, que não escrevo poemas
sou irmão gémeo dos mortos
das vozes roucas que seguem no sangue
a luz abandonada das raparigas
plantas pensativas no parapeito da vida
e cresço dividido no que não sou
viajante paralisado no instinto de partir -
eu, que não escrevo poemas
sonho com estepes, cavalos, iaques
e veias escancaradas em noites tão escuras
que levam séculos a amanhecer
esfolando lentamente a pele do céu -
eu, que não escrevo poemas
conheço na dureza das paredes
o cinzel de um escultor cego
a espera atenta e poderosa das osgas
a errância de todos os heróis
que atravessam rios no meio de névoas
e logo a seguir caem de bruços
no silvo melancólico de uma espada -
eu, que não escrevo poemas
conheço o castigo das palavras
que dão ordem de expulsão
e deixam solstícios na alma
e um vento febril nas mãos
e que no areal da multidão
assombram os olhos de estranhos fogos
ateados na calada da vida
por incendiários enlouquecidos -
eu, que não escrevo poemas
recito poemas perfeitos
no oceano dos livros que enfrentam o nada
e gravam sinais de vida
no flanco vincado das montanhas
onde vivem como reféns
os que, como eu, não escrevem poemas
2010
música
Ghédalia Tazartès - Élie
https://youtu.be/lOFgUrJSoCM
2015, josé
eu, que não escrevo poemas
sou irmão gémeo dos mortos
das vozes roucas que seguem no sangue
a luz abandonada das raparigas
plantas pensativas no parapeito da vida
e cresço dividido no que não sou
viajante paralisado no instinto de partir -
eu, que não escrevo poemas
sonho com estepes, cavalos, iaques
e veias escancaradas em noites tão escuras
que levam séculos a amanhecer
esfolando lentamente a pele do céu -
eu, que não escrevo poemas
conheço na dureza das paredes
o cinzel de um escultor cego
a espera atenta e poderosa das osgas
a errância de todos os heróis
que atravessam rios no meio de névoas
e logo a seguir caem de bruços
no silvo melancólico de uma espada -
eu, que não escrevo poemas
conheço o castigo das palavras
que dão ordem de expulsão
e deixam solstícios na alma
e um vento febril nas mãos
e que no areal da multidão
assombram os olhos de estranhos fogos
ateados na calada da vida
por incendiários enlouquecidos -
eu, que não escrevo poemas
recito poemas perfeitos
no oceano dos livros que enfrentam o nada
e gravam sinais de vida
no flanco vincado das montanhas
onde vivem como reféns
os que, como eu, não escrevem poemas
2010
música
Ghédalia Tazartès - Élie
https://youtu.be/lOFgUrJSoCM
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